Editorial Núcleo Memória | Julho de 2020
EDITORIAL
No último mês, a crise provocada pela COVID-19 se acentuou com o número de óbitos ultrapassando 90.000 pessoas em todo o país, evidenciando a falta de preparo das atuais autoridades para lidar de forma respeitosa e profissional com esta pandemia.
Ao mesmo tempo, vimos com extrema preocupação a notícia da criação de uma “Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas” no âmbito do Ministério da Justiça, que nos lembrou as conhecidas DSI (Divisão de Segurança e Informações) que havia em cada Ministério na época da ditadura civil-militar no Brasil. Foi noticiado que esta Divisão teria elaborado uma lista com nomes, fotos e documentos pessoais de servidores públicos da segurança e de professores universitários que teriam opiniões contrárias ao fascismo. Definitivamente, isso constitui a criação de um serviço de informações paralelo, expressamente proibido pela Constituição Federal de 1988 (art.5º, VIII), sendo que manifestamos por este meio a solidariedade a todos os que foram incluídos nesta lista, a começar pelo professor Paulo Sergio Pinheiro, renomado intelectual e ex-ministro de Direitos Humanos do país.
Esta notícia se somou a vários diferentes ataques ao regime democrático e às instituições do país expressados por alguns dos governantes e através das redes sociais que, insufladas pelas autoridades, encarregam-se de espalhar notícias inverídicas, tratamentos de saúde sem comprovação científica e, principalmente, o descaso e falta de respeito com as populações mais vulneráveis da sociedade.
Aliado a isso, vimos com preocupação os dados a respeito do índice de letalidade policial, principalmente em São Paulo, que cresceram de forma vertiginosa, levando a sociedade a se manifestar contra a crescente violência policial, atingindo principalmente as populações das periferias da cidade.
Por isso, aplaudimos o surgimento de diversas notas e abaixo assinados, a maioria virtuais, assim como manifestações de opiniões na mídia tradicional e alternativa, que trouxeram à tona um poderoso alerta contra os ataques às instituições democráticas. Neste momento de união de diferentes matizes políticos em prol de uma Sociedade que respeite os valores e princípios democráticos, nós do Núcleo Memória nos somamos a estes movimentos surgidos nos últimos 30 dias na defesa de um Estado Democrático de Direito.
Engajados na luta pela promoção da memória política, na defesa dos Lugares de Memória e na Educação em Direitos Humanos e Cidadania, estamos colocando o nosso grão de areia na resistência a este modelo perverso que estão tentando nos impingir, e seguindo neste trabalho para a construção de uma Sociedade justa, fraterna e alicerçada na igualdade real.
Boa Leitura!